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domingo, 27 de outubro de 2013

O NINHO




                              


                              O NINHO

                                                                                          
                                                         Drª Ana Felícia Guedes Trindade*

Existe uma artista plástica brasileira chamada Inha Bastos que pinta imagens de calor, aconchego e ternura. É claro que esta é a minha leitura, uma leitura que vem, primeirissimamente, do lugar da emoção, e que nega quaisquer preocupações com quaisquer racionalismos de enquadramentos da arte. Quando deparei-me, pela primeira vez com a produção de Inha Bastos, identifiquei um jeito de pintar a singeleza e a ternura, algo que considero muito complexo. Entre as obras, há uma que fascina-me. Chama-se “O Ninho”. Naquele lugar do aconchego, uma figura feminina acolhe uma criança pequena, acompanhada por dois gatos sonolentos e languidamente ternos. Em meio aos tons-terra combinados com o morno da ternura, Inha traduz um ninho. Esta imagem sempre atravessa o melhor de mim: a emoção de estar no mundo acolhida.
Estar no mundo acolhida - que não trata de um eterno lugar de estar sempre acolhida no mundo, porque nossas diferenças, por si mesmas, já garantem, de alguma maneira, processos de inclusão ou de exclusão, portanto estamos também falando de um processo movediço, que não se fixa. É claro que meu estar crítico no mundo, o qual preservo como um patrimônio íntimo de imensurável valor, recorda-me as dores de todos os humanos que vivem em estado de desacolhimento, exclusão, apartados do sentimento de ser e de estar incluídos no mundo suas vidas inteiras ou grande parte delas. E dolorosamente, este atravessamento, dos sem-ninhos, toca-me, emociona-me, o que, por inúmeras vezes, encontro-me reflexionando, sobre essa dimensão, com melancolia e indignação, no andar de toda uma vida.
Nesta escrita, será dos ninhos mais possíveis de construir, destes que estão mais em nossas mãos e alcances, que desejo mais falar, independente dos contextos econômicos ou sociais que as pessoas se encontrem. Quero pensar os muitos ninhos que uma educadora, um educador, podem produzir, neste sentimento dos sistemas aninhados pelas  afecções e  subjetividades. Desde este  lugar, pretendo uma leveza nesta escrita, tentando traduzir tal abrigo deste lugar que aquece almas e corações, que produz sentimentos de conforto, ideias de segurança, que aninha e que protege do nascimento ao crescimento o que é vivo, o que é humano, sem abrir mão dos fios políticos que estas intenções provocam. Deste lugar de habitar a vida, desta casa, desta toca, deste lugar de cuidado, refletindo as tensas micropolíticas tramadas deste viver.

Uma roda que espera um ninho
Ao iniciar as aulas, retornando a trabalhar com os pequenos do 1º ano, recupero, com olhos marejados, o meu lugar de educadora inquieta. Observo a turma de 26 pequenas crianças, filhotes da curiosidade de mundo, esperando acolhimento, segurança, cuidado, atividade criadora, barulho, movimento, invenção. Observo suas fragilidades e seus olhos que esperam, que aguardam, algo que nem elas tem as exatas definições do que seja, mas que sabem do lugar da intuição e que pode margear pelo campo dos risos, dos inusitados, dos tempos sem horas, dos espaços livres, das criancices e sabedorias crianceirais. Presentes ali, em suas pupilas inquietas e pulsões dos seus múltiplos corpos, olhando-me, arremessam-me para construir o tão necessário ninho.
Na volúpia do meu ser de educadora aprendiz, surpreendo-me, feliz, felicíssima, sentindo-me felizarda por compreender que, no círculo artesanal do ninho que me proponho a fabricar sempre junto com elas, com as crianças, busco construir, com o material mais nobre, trazido do âmago das florestas encantadas, a intensidade de um desejo que sabe-se como possibilidade concreta. Quero tramar os cipós dos elementos vitais para o cuidado destas vidas em aprendências, percebê-las, lê-las, ler com respeito as suas realidades, compreendê-las, problematizá-las, abraçá-las, aprender a conviver com elas e propor-lhes aberturas e metamorfoses, deixar-me aberta e livre para que elas me proponham também, viver tempos nômades, tempos loucos por fantasias e brincadeiras e cantorias, experimentando mais, ousando mais, produzindo a importância do processo, quem sabe produzindo o bem-viver da criação, da descoberta, da transformação, da infância, da invenção em todos os tempos possíveis que pudermos viver e conviver na escola.
Recebo o 1º ano, inaugurando-me. Não reinaugurando-me. Mas  inaugurando-me, porque já não sou a mesma, de uma dia para o outro, de um ano para o outro. Não quero me recauchutar, não existe reciclagem humana. Quero nascer de novo, me gestar e me parir todos os dias. Por isso, inauguro-me a cada 1º ano que me chega, com o respeito e a fé de que estas crianças existiram seis anos, e entre tantas vivências, entre elas, estou eu, como uma companhia mediadora, para vivermos uma experiência humana singular.
Batizo-me em nome da alegria, do conhecimento e da fartura de bem-querer crianças. Batizo-me como alfabetizadora e educadora infantil que dignifica a infância. Batizo-me. Eis a minha criança eterna, que surge, viva e sorridente, me sorrindo e me aninhando, suavizando minhas nervuras de adulta professora.
Em nome de ser educadora desejante, batizo-me, mais um ano letivo, como aprendiz, e reencontro aquela que está em processos de infinitas aprendências – a criança eterna que o Fernando Pessoa tanto chama sempre. Parece-me que é só reencontrando a minha criança interior, que consigo encontrar-me com todas estas que me chegam em uma roda de 1º ano.
 Ponho-me a construir “o meu primeiro ninho de dentro”, metáfora delicada, que ramifica-se e estende-se: o ninho do meu olhar sobre o 1º ano. O ninho dos meus pensamentos em relação ao 1º ano. O ninho da minha emoção com o 1º ano. O ninho das minhas primeiras palavras com o 1º ano. O ninho da ternura, da delicadeza dos meus gestos, da firmeza amorosa. O ninho da intenção política das ensinâncias que tenham sentido, das aprendências que tenham vitalidade, da potência e essência natural do próprio viver, da importância e impacto nas vidas delas, e na minha de alfabetizadora, de pessoa, de ser humana que sou. O ninho da alegria de compartilhar, de con-versar e de cuidar do desenvolvimento e crescimento infantil humano do meu 1º ano.

Do olhar-ninho
Construir um olhar manso e compreensivamente inquieto sobre múltiplas realidades e sobre as múltiplas dimensões dos próprios viveres, abdicando do desejo perverso de formar, reproduzir e enquadrar essas realidades em algum lugar que acredita-se como professoras e professores que somos, é extremamente desafiador e arrojado. Aprendemos a ser educadores e educadoras escolares com uma marca absoluta: a de imprimir nas crianças as nossas formas de pensar, as nossas formas de sentir e as nossas formas de viver ou as que nos ensinaram. Porque elas são de adultas e adultos que sabem o que fazem, de pessoas que já viveram mais tempo, de saberes acadêmicos que já pertencemos, enfim, de alguém que sabe mais e melhor. Quão decadente e mesquinha esta compreensão! Libertar-nos dessa arrogância poderá levar uma vida inteira. Não aprendemos a ser educadores e educadoras sociais. Nem populares. A vida foi ensinando a quem esteve, por amor ou por dor, produzindo vãos em suas consciências de mundo, fissuras, estremecimentos sísmicos dos subterrâneos psíquicos, que sempre muito abrem para a consciência de mundo, para produzir pensamentos matrísticos e ampliam os olhares sobre a diversidade infinita da vida. Não conseguimos em proporções iguais ou mesmas circunstâncias. Nem todos aceitamos com tamanha humildade. Nem todos  quisemos ou queremos. Nem todos pudemos ou poderemos escolher.
 Fazer um esforço imensurável para olhar o outro na sua realidade e compreendê-lo é um exercício político cultural revolucionário criador. Criador de uma nova cultura. De uma cultura respeitosa com o outro. Não é fácil, mas é possível e é tremendamente transformador e transcriador. É um jeito de fazer um ninho: receber o outro sem crises de julgamento. Olhar o outro fraternalmente. Porque o olhar acolhe ou expulsa. Pelo olhar, criamos mundos ou destruímos mundos.

O pensamento-ninho
Construir um pensamento aberto e democrático sobre uma turma de crianças demanda enorme noção de realidade. Demanda, também, compromisso com a realidade. Pensar e reflexionar sobre uma turma todos os dias demanda pensar ativamente sobre ela, planejar com ela, sonhar possibilidades para e com ela, constituir efetivamente um trabalho com intencionalidade política que dê conta de vincular vida/escola, vida/conhecimentos, vida/aula. Pensar para o outro, com o outro, pelo outro requer saber o que se está fazendo, em primeiríssimo lugar. Saber o que se faz demanda maturidade e responsabilidade. Demanda ter clareza política do que se pretende e aonde se pretende chegar. Os pensamentos sobre os outros também são definidores de mundos: acolhemos ou expulsamos. Nossos preconceitos se fundamentaram tanto que pensar sobre o outro é pensar sempre sobre uma base de juízos e julgamentos. Mas existe o pensar sobre o outro que rompe com esta maneira limitada e curta de pensar sobre o outro: pensar que somos tão humanos quanto o outro e pensarmos o outro no seu legítimo direito de ser legitimamente outro. Falíveis, atravessados por histórias de vida, por contextos sociais, culturais, políticos e econômicos, biologicamente dependentes, todos da mesma espécie, com necessidades iguais ou muito próximas. Construir as primeiras palavras com o outro é uma responsabilidade. Abrir as comportas de uma linguagem falada com o outro, nos expõe frente ao outro, ao olhar do outro, ao pensar do outro, mas é verdadeiramente transformador e transgressor. A relação vai depender de uma troca de linguagem, de uma compreensão da linguagem do outro, de uma aceitação do outro, de uma interação com o outro, por meio das palavras.

As palavras-ninho,
a emoção-ninho
As primeiras palavras com o outro fundarão o mundo dessa relação. Também pelas palavras acolhemos ou excluímos. As palavras são poderosas naquilo que elas carregam de valor simbólico. As primeiras palavras com crianças e jovens definem a relação que desejo construir com eles.
Emocionar-se é fundante. Sem a Emoção não abrimos espaços para as latências, para as pulsões, para os desejos, para os sonhos. As latências e pulsões emergirão pela emoção, tramarão-se com os desejos, que nascerão pela emoção. Os sonhos engravidam de projetos que nascem da emoção. A emoção é uma categoria existencial. É uma categoria do vivo, do humano. Pela emoção, universos se estendem. Quem está com sua emoção muito controlada, deve pensar sobre os anestésicos culturais e sobre os gessos históricos que aceitamos vida afora. Emocionar-se com o outro está na superfície da vida da vida. Não tem que escavar para encontrar emoção. Se tivermos que escavar muito precisaremos nos perguntar se ainda estamos vivos. Emocionar-se é uma condição do vivo. É uma condição da nossa humanidade. Palavra e emoção, tramadas, são nichos que aninham.

Produção de sentidos - ninho
 Também fazer da escola um lugar de existir que seja significativo não pode ser apenas em discursos e teorias anunciadas. A Escola precisa ser significativa também para o educador, para a educadora. Ao entrar nela, precisamos estar com a emoção ainda à flor da pele, um novo rosto e um nova e provisório saber, um novo projeto, um novo livro, uma novo sabedoria, uma questão transgressora, um velho saber dos bons bem afiado, um velho saber ressignificado, um compromisso com o outro, uma aprendizagem de repente, um inusitado gesto de delicadeza e reconhecimento, uma irreverência da turma, uma contestação na reunião pedagógica, uma alegria inesperada, um protesto sindical potente, um desejo convicto de dignidade são sinais vitais de que ali existe vida. Para o educador/educadora a escola também precisa produzir sentido. O dia que a escola não tiver mais o sentido de produção de sentido, o sentido de produção de vida para o educador e educadora, a escola não é mais o seu lugar. Deixou de ser. Já foi. Ressignificar a Escola lembra um reapaixonamento e uma consciência ampliada de que ali, por ter pessoas, é um dos lugares mais bonitos e políticos da vida. Que pode ser um lugar de vivermos nossas belezas, nossas políticas, nossas verdades. Não se faz política sem beleza e sem verdade. Política que não tem beleza e verdade não é política. Escola que não discute mais suas políticas de vida com beleza e verdade deixou de ser Escola. É um prédio. Que forma. Então, ressignificar aprendizagens passa por muitos atravessamentos, até se transformarem em aprendências.
Aprendências são processos complexos. Passam por desejos, vontades, sentidos, pulsões, emoções, criações, superações, invenções, quebras, rupturas, deslocamentos, abalos, recriações, transbordamentos. Se não passar por aí, não há aprendência. Aprender, ensinar e entrelaçar saberes científicos com a vida e com o que nela pulsa, são as razões que justificam a existência da escola, colocando a ela, suas claras funções políticas sociais de ampliar a visão de mundo e afirmar cidadanias coletivas solidárias. Aprendências e ensinâncias são adjetivações que existem para educandos e educadores também. Para todas as gentes. Para todos e todas, porque elas só se justificam se democratizadas.

Convite-ninho
Desejo, com respeito profundo, convidar todos os professores e todas as professoras para buscarmos, novamente, as razões pelas quais desejamos, um dia, exercer esta profissão. Também buscarmos os sentidos que nela ainda existem, para cada um e cada uma de nós. Também buscarmos quais as necessidades que a permeiam. Também buscarmos olhar os processos nas quais esta profissão se funda, e sem as quais não se consolida, nem acontece. Buscarmos nossos direitos, esses que, sem eles, não existiremos como educadores dignos. Escavarmos e encontrarmos, quiçá, de maneira potente, viva, forte, arrojada, os nossos próprios sentidos neste universo todo. E, se  encontrarmos ainda nosso elã vital, que nos façamos presentes e vivos, latentes e desejantes disso tudo, que possamos recuperar o desejo ardente de fazer ninhos nos espaços que escolhemos habitar, que desejamos estar e que desejamos viver esta tensão e esta paixão de sermos educadores e educadoras. Que ao reencontrarmos e recuperarmos nosso senso crítico, nossa posição, postura política e o nosso espírito de luta pela superação cotidiana das desigualdades sociais, culturais e econômicas, incluindo as nossas como professores e professoras, que é o que nos dá noção da realidade e sentimento de responsabilidade e compromisso, possamos produzir, com muita ternura e responsabilidade política, mais e outros elementos vivos que respondam, um pouco pelo menos, às muitas fomes que vivem nas infâncias e juventudes de nossas escolas. Por amor político. Por fraterna convivência. Pelo direito de aprender. Pela alegria de ensinar. Por amor político ao mundo. Por amor fraterno às pessoas. Por amor próprio, este que precisa existir em nós mesmos. Por amor cultural, por respeito à dignidade das crianças em viverem, em suas infâncias, experiências maravilhosas na escola e em seus outros processos educativos.
Como disseram as crianças do 1º ano: “a escola é um ninho de gente”. Como disse Diego, lá na EJA da Restinga: “ninho é o lugar onde tem paz. E na minha conversação com meia dúzia de botões, digo que pode-se desejar fazer ninhos. Podemos aprender a construir ninhos. Podemos desejar habitar ninhos. Podemos desejar desfrutar de ninhos. Podemos ser ninhos. Em nome de um “novo habitar humano”, como lembra-nos, tão suavemente Humberto Maturana em suas pesquisas, e tão ludicamente, Inha Bastos, em suas imagens inesquecíveis - que dá para inventarmos novos jeitos de habitar o mundo e de produzir novas criações para vivermos as próprias vidas, as vidas como instantes, a vida como estética, a vida como política de viver fraternidades.
      (Diário de Aula-Estudos de Campo - Produção Escrita num 1º de março em expansão)
                                               “É indo e vindo que um pássaro tece seu ninho”
                                                                          (Provérbio Africano)


*Professora pública alfabetizadora e docente em Curso de Formação Inicial de Professores, em escola pública.Mestre em Práticas Pedagógica/ Ética da Vida e Drª em Educação, em Pedagogias Poiéticas (Bolsa CAPES/PUCRS). Bolsista pesquisadora e estudante (UFRGS), palestrante de encontros formativos em Educação, conversadora de rodas, apaixonada pelas crianças e por processos educativos transformadores, desejando se fazer sempre ninho entre gentes.


terça-feira, 8 de outubro de 2013

DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL (2010)

Caras Turmas, desejo um bom estudo das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, neste feriadão.Nas mesas-redondas que faremos na entrada da próxima semana, este estudo será básico para a qualificação de nossos debates.Espero que todas e todos acessem, imprimam e estudem! Não nos constituímos excelentes professores sem excelentes teorias que possam nutrir o desejo de uma Prática Pedagógica consistente. Leituras, Teorias, Conhecimentos são as grandes referências para que as nossas práticas possam se constituir como práticas pedagógicas responsáveis e de qualidade!

Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil by Ana Feliccia

COLEÇÃO PRIMAVERA-VERÃO II - Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (2010)

Turmas todas! Estou postando a 2ª parte da Coleção Primavera-Verão: as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Este material deverá ser impresso, lido muito bem NESTE FERIADÃO; deverá ser bem estudado, bem marcado e resumido,para trazer na próxima semana já assimilado e compreendido, pois faremos uma mesa-redonda que exigirá, de todos e todas, conhecimentos sobre este material. Estas Diretrizes Curriculares são as maiores linhas de referência curricular, as mais amplas e as mais utilizadas como parâmetros, referências, bases para a construção dos currículos em Educação Infantil. Usem e abusem desta II Parte da nossa Coleção Primavera-Verão!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Educação para a Potência

II Filme: Educação para a Potência - Escola Nômade de Filosofia - Desejo que, nesta semana, estes dois filmes se configurem como estudos de nosso campo de conhecimentos. O primeiro - Criação de Si como Obra de Arte - está postado mais abaixo. Este, Educação para a Potência, como uma continuidade do primeiro estudo.
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Flores e Cores: Crianças da Educação Infantil !

Coleção Primavera-Verão!
Leituras, estudos, consultas, pesquisas, seminários à distância, coletâneas sobre Educação Infantil. Flores e Crianças, flores em crianças, crianças em flores, em nossos estudos para a Prática de Ensino na Educação Infantil e Anos Iniciais! Os materiais da coletânea estarão sendo postados no face da disciplina: Didática Poiética. Poderão ser impressos para serem lidos e consultados. Estejam atentos: duas vezes por semana, nas sextas e domingos os materiais serão postados para leituras e apropriações para as aulas da próxima semana. Este é o link: "http://www.slideshare.net/slideshow/embed_code/9914572" Feliz Primavera-Verão para todos nós, sempre dispostos e felizes aprendizes!

Criação de Si como Obra de Arte

Criação de Si como Obra de Arte: Este vídeo é parte de um estudo que ando fazendo e indico para todos os meus amigos, para todas as minhas amigas, para as minhas turmas de aprendizagens em comum, para todas estas pessoas do bem que se auto-produzem todos os dias, que se produzem para o mundo, que se potencializam a partir de um esforço sobrehumano que chama-se Potência, porque se comprometem com a história humana, com o mundo, com a vida, com o viver, com o amar. Sentem num sofá bem confortável, com tempo para si e deleitam-se, com cada palavra deste amor de filósofo da vida. Tragam cada palavra para dentro de vocês, articulem com as coisas sentidas, bebam esta conversação, pensem em vocês como produção de arte!Com todo o amor!

domingo, 22 de setembro de 2013

COLEÇÃO PRIMAVERA-VERÃO!
Junto com a Primavera, entramos na fase de estudos sobre a Educação Infantil. Uma coletânea de textos, documentos, materiais, artigos estarão sendo disponibilizados para as turmas 21 N, 21AE, 22AE E 23AE, as quais estarão se preparando para entrar em Prática de Ensino na Educação Infantil. Que as crianças, como as flores, estejam em nós, tatuadas como seres da vida que nos ensinam sempre a renovação dos aprenderes e das aprendizagens. Estejamos atentos e atentas: sempre nas sextas e nos domingos haverão novos posts, que deverão ser lidos, compreendidos, estudados. Feliz Primavera-Verão, para nós, aprendizes de Bem-Viver! "http://www.slideshare.net/slideshow/embed_code/9914572"

sábado, 21 de setembro de 2013

KIT PLANEJAMENTO

Turmas queridas, estou enviando o material para os estudos de nossos próximos encontros, por meio do link abaixo, que encontra-se pelo SCRIBD. Desejo que o imprimam, leiam, marquem tudo o que despertar interesse, dúvidas, questionamentos, para que possamos problematizar este estudo tão fundamental em nosso ofício de ser professor. Bons estudos! http://pt.scribd.com/doc/169841825/Kit-Planejamento-3 http://pt.scribd.com/doc/169841825/Kit-Planejamento-3

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

É tempo de viver sem medo!

Turmas, uma amiga que está, neste momento, fazendo Doutorado-Sanduiche em Portugal me indicou este filme, que foi compartilhado em suas aulas, na Universidade. Um primor! Este é o link:http://youtu.be/gujK5WEVG8g É o Eduardo Galeano nos falando muito belamente sobre as coisas mais fortes da vida!Peço que ousem! Assistam e depois façam um Diário de Campo, escrevam sobre o filme. Lindo final de semana!

domingo, 4 de agosto de 2013

Filme : Ana Flor e as Narrativas Poéticas 


                                                
                                                              Uma bebê num Museu de Arte




          Dos Museus como espaços culturais vivos e potentes mediadores de aprendências 
          Da Mediação como possibilidade de compromisso com o outro e de amor pelo outro 


     Foi numa tarde de maio que desejei levar minha neta ao Santander Cultural, na Exposição Narrativas Poéticas, uma construção entre artes plásticas e poesias brasileiras. Movida pelo princípio construído desde sempre de que os processos culturais são de todos e todas, portanto, todos e todas devem ter acesso a eles,  convidei minha neta Ana Flor para a aventura de dialogar com as palavras, luzes e espaços num Museu como o Santander Cultural! Dias antes, andei por lá e percebi a vastidão e potência da arte que estava em exposição. O Princípio permaneceu como possibilidade concreta e lá fui eu, vó de primeira viagem, dias depois, levar a netinha de um ano para dentro deste Museu de Arte.

     Ana Flor encantou-se com tanta claridade bonita: espaço para engatinhar pela frente, altura a perder de vista, amplidão de luz e de beleza  que a clarabóia enorme possibilita. E na primeira engatinhada, ao levantar a cabeça para me olhar, percebi que seus olhos ficaram a caminho, porque se prenderam nos vitrais do teto maravilhosamente envidraçado do Santander. Seus olhos se prenderam nas cores dos vitrais como um sentido presente para ela mesma. Esse seu gesto desejante de beleza inaugurava nossa chegada no Santander. Ali, naquele olhar preso nos vitrais, iniciávamos a visita à Arte do Santander Cultural. Eu falava, levando as mãos no ar, tentando alcançar, com as palavras "cores", "lindo", "amarelo", "vermelho", "azul", "muitas cores", "beleza", palavras que tenho usado com ela em outros contextos coloridos e belos. E o seu olhar, curiosamente, preso naquele arco-íris feito de vidrosdearte, vitrais e olhar se encontraram. Tentava fazer uma mediação de "fascínio" ao que ambas víamos. Com a altura de seus doze metros de pé direito, o espaço térreo do Santander se faz muito amplo para todos, e para uma bebê, muito mais. Ana Flor entortava seu pescoço, para cima, olhando os vitrais, e ela mesma se perdendo na tontura boa de quando se vê beleza. E eu me sentia uma mediadora que não dava conta de tanta altura e distância, usava, então, minhas mãos no ar ao mesmo tempo que ficava na ponta dos pés para me esticar, e assim ia falando, falando palavras que me ajudassem a mediar...Ela, surpreendentemente, com sua língua de bebê de um ano, fazendo silabanês, construía conversinhas e diálogos entre as cores do telhado de vidro e nós. Passado este primeiro momento, digno de ser vivido por todos os bebês do mundo, iniciamos nossa imersão poética pelo mundo das pinturas, gravuras e desenhos de expoentes do Modernismo Brasileiro. Recepcionando-nos, encontramos Di Cavalcanti, com sua "Mulata na cadeira", um óleo sobre tela, de 1970, em maravilhosa cor-terra, telha, bem Brasil. Com Ana Flor no colo, para ficarmos da mesma altura, colocamo-nos, em companhia a esta mulata, que em posição de quem pensa, viaja em sua preocupada reflexão que nem podemos imaginar qual seja, porque só dela. Ficamos nós três, numa conversa entre mulheres. Eu, explicando a ela que aquela era uma mulher, e que bonita, e que pensadora, e que grande aquela obra( mexia minhas mãos em torno da obra), e a bebê, de novo, com seu olhar preso na mulata, como ela, viva, ali, e uma para a outra, vivas, e seus olhares, da mulata e da bebê inalcançáveis, impalpáveis, imensuráveis. Nem de que ordem, nem de que dimensão desejo saber, mas um  fato, sim: Ana Flor estabelecia uma relação com a "Mulata na cadeira", de Portinari. E assim, fomos andando e observando cada obra de arte. E a mesma capacidade de leitura e de concentração se fizeram presentes. Uma das obras que mais encantou Ana Flor foi "Fauna, Flora e Nativos Brasileiros", de Carybé, de 1953. Fui mediando, estabelecendo relações com figuras suas de afeto, como mamãe, papai, vovó, vovô, amiga, titio, dinda, dindo, e ela seguindo meus dedos com seus olhos de quem compreende, as árvores que ela já fala "arvri", e os passarinhos que ela aprendeu "pi, pi,pi,piuu" e rio, que ela diz "iuu". A tela é grande, onde coube muito olhar, muito tempo para olhar. O que comovia-nos muito de presenciar foi a concentração dela presa nas cores, presa na fala-entre-cores que eu fazia, murmurando, meio junto, meio não, palavrinhas de seu segredo. 

     Pensamos que aquilo tudo, aquilo que acabávamos de viver, já teria sido uma desvelação magnífica, quando encontramos algo que, então, surpreendentemente, foi a magia da tarde: a experiência estética que ela viveria com as poesias projetadas, por luzes, do alto para o chão da sala. Poemas e obras audiovisuais como de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Mário Quintana, Ferreira Gullar, Paulo Leminski eram projetados no chão, em palavras-luzes, às vezes, letra por letra, às vezes, verso por verso, ora na inteireza, ora por estrofe, criando um efeito de maravilhas aos olhos de qualquer visitante, imaginem de uma criança pequena. As Poesias dançavam, escorriam pelo chão. Ana Flor engatinhava até as letras e elas dançavam a sua frente. Quando ela tentava pegá-las, porque ela desejava agarrá-las, as letras saíam, disparavam, caminhavam, corriam, sumiam, "iam embora". Então, minha voz mediadora perguntava: "Poesia, onde você foi, poesia?", tentando demarcar a palavra "Poesia"...ao se deparar com a ausência da "Poesia", ela me olhava, e isso aconteceu repetidas vezes, desejando me perguntar "onde estaria a poesia (?)", e esperando, sim, de mim, sim, a ação mediadora. "Poesia, volta, poesia"...assim eu chamava aquele bando poético de letrinhas que ora chegavam rápido ou lentamente, inteiras ou aos pedaços, o que prendia muito o seu olhar também. O movimento das letras, daqueles seres que ainda ela não os sabia como "letras", mas que a encantavam pelo movimento iluminado. Um processo atordoante de bonito. Fizemos muitas vezes, do mesmo jeito, para trabalhar a memorística e o repertório, e de muitas outras maneiras. E sem falar que foi uma apresentação muito bela do que seja ou venha a ser,  Poesia para Ana Flor.

     Os Museus, quando são espaços culturais vivos, que constroem interlocuções e múltiplas experiências de desvendar arte e beleza são, na realidade, potentes mediadores de ensinâncias e aprendências. Minha relação com o Santander Cultural e as crianças vem de há muito tempo, com minhas turmas de uma Escola pública da Restinga. E sempre consigo me emocionar com sua capacidade de  produzir processos estéticos e de contribuir na formação e desenvolvimento de pessoas, a ponto de provocá-las a desejarem viver esteticamente suas vidas e a pensar a própria arte como vida. Trazendo propostas que exigem dos sujeitos inquietação e olhar crítico, esta instituição inventa e reinventa sua proposta com uma professora articuladora e mediadora de excelência na coordenação do seu pedagógico, a qual passou pela experiência escolar durante muitos anos e que tem aproximado o Santander do universo escolar com propriedade e sabedoria pedagógica.
     Pensar no compromisso que estes espaços culturais tem com a formação e experiência cultural das pessoas, em especial, de jovens e crianças, nos remete a pensar que tipos e formas de produções culturais tem sido criadas e acessadas, as quais possam constituir o outro como sujeito criador e emancipado, autônomo e livre. Remete-nos também a pensar o quanto, como educadores e educadoras, estamos ou não, mais ou menos, apropriados das produções culturais em suas múltiplas formas de existir - algo a pensar com mais profundidade em próximas narrativas.

     Mas, nesta tarde de maio, do Santander, saímos, os três, bem felizes: um avô que se realiza em construir estruturas para nossas invenções (neste caso, gravou o pequeno vídeo desta narrativa), uma vó que se fez "mediadora de bebê" e uma bebê aprendiz se inaugurando em sua própria longa-linda vida estética-cultural de maneira muito brincante. É claro que tivemos que celebrar: dali, fomos para uma cafeteria pedir café com sonhos. Após umas três semanas, quando ela começou a caminhar, voltamos ao Santander. E vivemos, novamente, experiências estéticas maravilhosamente educativas.

     Esta experiência demarca, em minha trajetória de educadora, algo novo: a mediação de  uma bebê em suas primeiras leituras de mundo, com a consciência da minha ação mediadora. Muito diferente de ter sido mãe na década de 80 e início de 90, quando apresentava o mundo cultural aos filhos, sem ter a consciência de que tudo aquilo era mediação, ou seja, existia a intuição de, o sentimento de necessidade de, mas não existia a intencionalidade política de.
     A beleza deste encontro imprescindível entre a intuição e a consciência é infinito na sua explicação, é quase impossível na sua compreensão plena, tal é sua complexidade. Mas quando se tem consciência das possibilidades de onde se quer chegar, mediar passa a ser uma ação promotora da problematização entre um não fazer ideia do que seja e um começar a ter ideia do que seja. 
     Mediar crianças é construir uma ponte (mediadora) entre um estado de não-saber, de ignorância, de ausência para um estado de possibilidades, de aprendência, de estabelecimento de relações que construirão um nível de pensamento que interligue os elementos, as informações e os transforme em novos saberes. Mediar uma criança requer humildade. Para ficar-se pequena, em tamanho e em jeito de mediar, que alcance o nível que a criança se encontre, não só de pensamentos mas de sentimentos também, constituindo uma primeira ponte entre suas ideias em chamas e sua emoção de criança. É uma mediação de afetos e de cognições, que se entrelaçam e se emaranham, para o "mediador mediar o desvelo". Doida ou sábia esta narrativa, não sei, mas os dois me agradam. Nada do que é doido é menos sábio, porque da loucura das ausências, nascem as mais belas presenças, e das sapiências que nunca foram percebidas como doidas há que se desconfiar. Mas que a mediação estética-artística-cultural de "bebês  bem bebês" é possível, não venha, ninguém, me contestar. Depois desta iluminura, perfeita iluminância, vivida com Ana flor em seu recém completo um ano de idade, eu é que desconfiarei como não ser possível fazer mediações pedagógicas, didáticas, culturais, com quaisquer pessoas, de quaisquer idades.
     A Mediação também é amor político cultural pelo outro. Alteridade pura. Solidariedade. Compaixão. Também é o desejo de que o outro realize o seu direito humano de ter acesso ao patrimônio cultural tanto quanto eu realizei e realizo este direito humano. A Mediação é um compromisso com a existência cultural plena do outro. É um compromisso com a Potência do outro. É um compromisso com a Bioantropoética do outro. É um compromisso com a cidadania e com a lucidez política-cultural do outro: isso é amar.




ZONA AUTÔNOMA DE EXPERIMENTAÇÕES POIÉTICAS: entre-lugares para uma Didática Geral crítica e contemporânea

Poiesis na Formação de Professores:
 Produzindo a Didática Geral como
 Zona Autônoma de Experimentações Poiéticas


         Entre o final do verão e o prenúncio do outono de dois mil e treze iniciei uma jornada pela qual, acredito, tenha esperado há muito: ser professora de Didática Geral em um Curso Normal, trabalhadora docente nas bases da Formação de Professores de nosso país. Este desejo intenso nasceu durante as minhas práticas pedagógicas na Educação Infantil e nos Anos Iniciais em Escolas Públicas. Como educadora infantil e alfabetizadora estive, durante muitos anos, em muitas horas de trabalho docente e com uma carga-horária considerável, buscando constituir minha Docência como espaço de aprendências e ensinâncias de todas as pessoas envolvidas. Busquei, diariamente, constituir a sala de aula num imenso laboratório de vidas, de emoções, de alegrias, de saberes a partilhar, de conhecimentos a construir, de autonomias a serem geradas e fortalecidas. Essa experiência docente responsável e politicamente comprometida com a educação de qualidade para todas as crianças da escola pública e que parte da alegria do meu viver deve-se a ela, consolidou meu desejo de trabalhar em espaços ditos de Formação de Professores. Eis-me aqui e agora: professora de Didática Geral, no Instituto de Educação Flores da Cunha - lugar sagrado na minha história de vida e nas vidas de tantas pessoas que deram, desta instituição, seus primeiros passos rumo as suas profissionalidades. 

         A primeira experiência do primeiro semestre demonstrou que eu precisaria ser bem mais arrojada do que eu havia imaginado. Entre a Docência em várias turmas e as experiências de orientações e acompanhamentos em Práticas de Ensino, entre as muitas reuniões e as minhas inúmeras hibernações de reflexão e estudo, percebi que o tempo cronológico, entre os tantos outros existentes, é o demarcador mais aflitivo dos processos de construção efetiva daquilo que nos propomos a realizar em um espaço como este. 
Está sendo apenas neste segundo semestre, em pleno inverno rigoroso, que estou conseguindo realizar um dos desejos de "final de verão", ou seja, das "águas de março": pensar e inventar um Blog que seja uma ponte mediadora entre as ideias e estudos da Didática Geral e professores e estudantes do Curso Normal.

          Assim, desejo, de todo o coração e com todas as muitas racionalidades sensíveis que me habitam, que este espaço seja constituído por muitos sujeitos, de muitos lugares, de entre-lugares e também de vãos, de abismos, de não-lugares. Que seja muito feito de conversações, de dialógicas, de pontes mediadoras e de ZONAS livres, poiéticas e auto-poiéticas, autônomas e emancipadas, questionadoras e críticas, construtoras e desconstrutoras, de potências, de reflexões políticas, de presenças e ausências, de saberes e de ignorâncias, de incompletudes e de inteirezas, de zonas de sombras e de zonas de luzes - tudo se complementando, interagindo, dialogando, conversando, constituindo cidadanias coletivas e saberes a partilhar. Que possamos celebrar a vida a partir dos nossos próprios viveres e das nossas próprias potências, dos sonhos que nos aproximam, da lucidez acerca da Educação que desejamos construir no mundo e que nos vinculam. Que compreendamos que este espaço é para ser inventado, feito e refeito quantas vezes necessário for, porque deseja-se aprendiz e aprendente sempre. Porque a tentativa é de seja pensado, alinhavado, costurado como uma Zona Autônoma e Livre de Experimentações Poiéticas, portanto livre do sim ou do não, livre da lógica binária que tanto nos amortece, fragmenta e nos separa. Mas que seja iluminado pela multiplicidade e pela pluralidade das ideias, dos sentimentos, dos pensamentos e das ações que nutrimos enquanto sonhamos e trabalhamos para realizar um mundo mais justo, mais digno, mais plural, mais sustentável e mais amoroso. Que Poiesis na Formação de Professores exista na Potência, na Ética e na Autonomia que nós, Seres da Vida, podemos produzir diariamente!